Falo-vos hoje da minha prima Catarina. A Catarina é uma mulher das Arábias. Não. Reformulo: A Catarina é uma mulher das Neves Eternas. Também não. Reformulo: A Catarina é uma mulher das Estepes. Ainda não. Reformulo: A Catarina é uma cidadã do Mundo. Assim é que é.
Chamamos-lhe Catarina, a Grande, porque é pequenina e esperta como os Duendes, misteriosa e sábia como os Druidas, frágil e poderosa como os Elfos, bela e imprevisível como as Valquírias, simultaneamente Filha e Mãe de todos os seres que povoam as florestas que guardam as suas raízes. É na mágica Irlanda que elas estão, ainda intactas, lançando-lhe no vento um apelo eterno. Chegou-nos um dia, envolta ainda nas insondáveis brumas das lendas celtas, a desafiar o sol e o azul inebriante deste reino do Sul. E num instante se fundiu nele e lhe pertenceu por inteiro. Não. Reformulo: Não por inteiro, porque ela não é de nenhum lugar. São os lugares que lhe pertencem, que se lhe rendem e se fazem seus por vontade própria. Porque não lhe resistem, porque é impossível resistir-lhe.
Quem olha para ela, incauto, não dá nada pela figurinha aparentemente comum. Enorme erro: é uma Loba. Uma mulher inteligente, feliz e realizada. Já amou muito, já sofreu muito, já viveu muito. E de todas as experiências, boas e más, soube tirar preciosas lições. Já fez de tudo um pouco, desde ocupar cargos de grande responsabilidade (é bióloga e economista) até limpar escadas e rabos de meninos alheios. É, verdadeiramente, uma mulher dos sete instrumentos. Hoje toca apenas, por opção, aquele de que mais gosta: um monte no Alentejo onde reencontrou o seu território sagrado. Entre ervas de cheiro, ribeiros e árvores milenares, descobriu o cenário ideal para as poções mágicas que cozinha em segredo. Porque também gosta de cozinhar, claro. Como nós, os parentes latinos.
Este “Dip dos Elfos Alentejanos” é um dos seus sortilégios. Prove-o e nunca mais será o mesmo. Quer apostar? Aqui fica a receita, tal e qual como ela a ensina:
Colocar no 1-2-3 um belo chouriço alentejano (mais ou menos com 250 gr), um raminho de salsa e outro de coentros, sal (só se for preciso!) e alguns grãos de pimenta acabada de trogloditar no seu moinho. Depois, juntar esta triturada aromática a uma embalagem de queijo creme (250 gr) e mais dois iogurtes gregos naturais. Podem também juntar-se alguns espargos picados. A seguir, fazer esperar as papilas durante 24 horas, enquanto, no frigorífico, o preparado se interpenetra devagarinho, cada ingrediente pelos outros, sob o êxtase de lauto festim próximo! E no fim, antes de servir: embebedar tudo com uma boa dose (meio cálice) de Ebrium Portum (vulgus: vinho do Porto), e …. correr para a mesa… a entrada vai ser servida!
Nota: O dip deve ficar espesso, e serve-se com tiras de pão de várias qualidades e outras de pera rocha, que se mergulham no creme.