O haicai (haikai/haiku) é uma antiga forma de poesia japonesa. É um poema curto de três versos, sendo o primeiro com cinco sílabas poéticas, o segundo com sete e o terceiro novamente com cinco sílabas poéticas. Vou me limitar a essa superficial explicação, pois não estou aqui para falar sobre a forma do haicai, com uma breve pesquisa na internet o leitor achará diversos materiais. O que quero abordar é o sentido profundo, contemplativo e sensível que o haicai carrega.
No ocidente temos um forte apelo a imagens e discursos verborrágicos. Somos bombardeados todos os dias pela indústria da propaganda/entretenimento/consumo com imagens apelativas, explicativas, redundantes e repetitivas, a fim de nos convencer a ficar ali, anestesiados.
Ano passado, meu corpo/espírito se sentiu motivado a escrever haicais. Estava confinada, devido a pandemia, em um outro país e senti esse apelo á simplicidade e profundidade que as poucas palavras do haicai transmitem.
...senti esse apelo á simplicidade e profundidade que as poucas palavras do haicai transmitem
No Japão existe um termo chamado “MA” que significa “vazio”, “espaço entre”, “portal” para a contemplação. O haicai tem essa missão de despertar o olhar atento para o vazio e através das palavras transmitir o momento presente desse espaço, como uma pintura impressionista. É na natureza e na observação que o haicai acontece, no “aqui e agora”, quase como uma atitude zen budista.
Poder ler e exercitar a escrita do haicai é um deleite e uma ação de resistência a toda essa lógica utilitarista das palavras. É se conectar com a natureza, com o olhar presente diante da vida cotidiana. É encontrar as brechas para o sensível em um mundo poluído.
Árvores balançam
Som das folhas que se tocam
Concerto da tarde
(haicai de inverno de Fabiana Louro)