Para ir para a casa da minha avó tinha que subir uma ladeira longa e íngreme. Tão inclinada era que tinha de desmontar da bicicleta. Foi só quando comecei a viajar que percebi como minha cidade era plana. Olha que, em toda a minha cidade, a montanha mais alta tem apenas 80 metros de altura. É tão baixa que nem acho que tenha nome. Todo mundo a conhece como o morro. Além disso, o país todo tem um clima temperado, sem nada em particular, nem calor nem frio insuportável. Chove mais ou menos, tem inundações, mas não tem seca.
Estou lhe contando isto porque uma vez em Genebra, em uma reunião de conterrâneos, conheci um cara que ganhava a vida como treinador de esqui, na neve. Quer dizer, o sujeito veio de um país sem montanhas ou neve, mas conseguiu ganhar a vida como treinador de esqui. Não sei quem poderia pagá-lo, muito menos quanto tempo levariam para sacar que ele não sabia de nada.
Não sei quem poderia pagá-lo, muito menos quanto tempo levariam para sacar que ele não sabia de nada
Mas talvez ele soubesse por que teria desenvolvido essa habilidade, não sei como.
Tem aquele outro que eu juro para vocês que o mais alto que ele tinha cavalgado na vida foi um pônei em Villa Biarritz, o parque para onde as mães nos levavam quando não podiam nos segurar em casa. A bosta dos pôneis é grande como a dos cavalos, embora os sejam muito mais baixos. De criança me surpreendia essa incongruência. Mas voltando ao cara que só tinha montado pôneis. Acontece que nas pirâmides do Cairo ele ganhava a vida montado em camelos para passear turistas. Bem, eu sei que mesmo o sopé do meu morro não seria uma comparação, mas se você tiver vertigem, não suba em um camelo.