
San Pedro arrepentido, c.1600
Recentemente o Papa Francisco viajou ao Canadá no que ele chamou de uma peregrinação penitencial. Foi um ato de contrição motivado pelos abusos perpetrados por mais de um século, por agentes da Igreja Católica contra populações indígenas, em especial as crianças. O belíssimo discurso do Papa podia ser interpretado à luz de tantos outros atropelos ao longo do tempo; não apenas pela Igreja Católica, nem só contra as crianças. Por isso eu tomei a liberdade de parafrasear o ato de contrição papal no seguinte poema, inspirado, muito de leve, na técnica de blackout poetry. Na sua versão mais estrita, blackout poetry consiste em construir um poema unicamente selecionando as palavras que sequencialmente aparecem num texto maior. Um exemplo muito exitoso desta técnica é livro Reconstituição Portuguesa, publicado em abril deste ano pela Companhia das Letras. Mas é uma técnica muito na moda: https://www.thehistoryofblackoutpoetry.org/blackout-poetry-on-social-media
Mil vezes perdão
A vida inteira é uma
peregrinação penitencial
de cura e reconciliação
sobre quanto as crianças,
jovens e velhas,
sofreram quando arrancadas
dos seus lares
Indelevelmente sacrificando a todos.
Hoje choramos nas sepulturas
das memórias despedaçadas,
para internalizar nossa dor
e fazer desta peregrinação
a ressurreição
de uma vida
de reconciliação universal.

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ab@alfredobehrens.com