Gente que Cuenta

Armadilhado, por Ricardo Martins

Francis Bacon Atril press
Francis Bacon,
Cabeza III, 1961

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Vou ter se usar frase de senso comum …

Éramos felizes. E não sabíamos.

Quis começar um texto onde meu personagem elogiava a embriaguez para sentir-se humano. Mas não pude. Não posso.

Não é correto.

Como dizer que a bebida pode elevar alguém se essa afirmação incómoda, nesses tempos do hipocritamente correto?

Poetas há que usaram, ou usam, artifícios externos à sua embalagem humana para atingirem a paz artificial. Ou real, já que todos a procuram através de vários meios

Ou descobrir que a paz é sempre artificial?

Ao tal contato com seus alucinógenos deuses

bebi! Ou não bebi? Fumei! Ou não fumei?

Tudo condenado. Tudo hipocritamente negado, renegado. E desejado.

Tudo aprovado em sessões pequeno- burguesas de algum chá classe-média pretensamente combativa em algum bairro classe média, com tigelinha ao lado, para poder vomitar comportadamente?

Preso.

A hipocrisia me sufoca. Os laços me amarram. Quero viver, quero falar, quero voar. Quero pensar.

Armadilhado.

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Ricardo Martins, jornalista e pesquisador, com trabalhos para a Editora Abril, TV Cultura e Fundação Roberto Marinho.
ricardomarts@yahoo.com.br

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