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Cabeza III, 1961
Vou ter se usar frase de senso comum …
Éramos felizes. E não sabíamos.
Quis começar um texto onde meu personagem elogiava a embriaguez para sentir-se humano. Mas não pude. Não posso.
Não é correto.
Como dizer que a bebida pode elevar alguém se essa afirmação incómoda, nesses tempos do hipocritamente correto?
Poetas há que usaram, ou usam, artifícios externos à sua embalagem humana para atingirem a paz artificial. Ou real, já que todos a procuram através de vários meios
Ou descobrir que a paz é sempre artificial?
Ao tal contato com seus alucinógenos deuses
bebi! Ou não bebi? Fumei! Ou não fumei?
Tudo condenado. Tudo hipocritamente negado, renegado. E desejado.
Tudo aprovado em sessões pequeno- burguesas de algum chá classe-média pretensamente combativa em algum bairro classe média, com tigelinha ao lado, para poder vomitar comportadamente?
Preso.
A hipocrisia me sufoca. Os laços me amarram. Quero viver, quero falar, quero voar. Quero pensar.
Armadilhado.
![Armadilhado, por Ricardo Martins 2 IMG 9272 2](https://www.atril.press/wp-content/uploads/2021/05/IMG_9272-2-281x300.jpg)
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