Gente que Cuenta

As estrelas e eu, por Alfredo Behrens

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Vincent Van Gogh,
La noche estrellada, 1889

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  Faz muito tempo que não vejo as estrelas. Vivo há muitos anos em cidades que de tão iluminadas não me deixam vê-las. Quando as via, sonhava. Não lembro exatamente o quê, mas só as ver me transportava para a possibilidade de outras vidas, de outros mundos. Naquela época eu li Asimov e outros. Eu não estava tão interessado no nome desta ou daquela estrela, muito menos interessado na sua idade, mas estava inflamado pela maravilha da busca pela compreensão do cosmos. Quem girava em torno de quem? Se o universo estava se expandindo ou não. Quem buscava suprimir o conhecimento, como se se agarrasse a um mundo que sucumbiria ao abrir uma única fissura numa parede.

Era tão interessante olhar para as estrelas quanto imaginar a miséria dos indivíduos aferrados à sua ignorância. Nessa mesma época, era tão pequena a cidade onde eu morava que ficava perto do campo e os que tinham carros iam ao campo para ver mais estrelas. Ao retornarem, os carros circulavam na cidade enlameados, como felizes por ter visto as estrelas. Nessa época eu podia ver as estrelas até de dia na lama dos carros, e imaginava que se os maus soubessem olhar para as estrelas, perderiam o desejo de bater em quem pensasse diferente, como se o tempo não tivesse passado desde Galileu. Mas talvez os brutos tenham nascido com antolhos, ou talvez nunca tenham visto as estrelas, porque se as tivessem visto apenas uma vez, não conseguiriam, sonhava eu, serem tão cruéis. Talvez ainda hoje seja só questão de apagar um pouco as luzes à noite, para iluminar os brutos com a luz das estrelas.

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Alfredo Behrens é doutor pela Universidade de Cambridge, leciona Liderança para as escolas de negócios da FIA em São Paulo.
Alguns de seus livros podem ser adquiridos na Amazon.
ab@alfredobehrens.com

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