Na minha pasta,
por Alfredo Behrens
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Eu não devia ter colocado aquele naco do miolo do paciente na minha marmita. Sim, eu sei - parece absurdo, mas quando você é neurocirurgião, essas coisas acontecem. Bem, na verdade não, mas depois de um dia dividindo cérebros ao meio e vendo pacientes acordarem completamente alheios ao fato de que seu “eu virgem” é tão real quanto o truque do mágico "escolha uma carta qualquer", sua mente começa a pregar umas peças estranhas.
Ainda ontem, podia jurar que ouvi uma vozinha, saindo da minha pasta durante o almoço. "Com licença", sussurrou, "mas acho que sou a consciência de alguém. Poderia me devolver? Estou no meio de uma crise existencial urgente." Como se fosse um daqueles atores do Pirandello.
Claro que isso é impossível. Já removi lobos inteiros, dividi corp...