Olho e fico emocionado. É bom senti-lo à minha disposição, esperando que eu estenda o braço e o agarre, quase sempre sem olhar para ele, sem a mínima consideração. Mas hoje tenho a sensação de ter aberto os olhos para o que me rodeia, ter enfim perdido o medo de ver. De estar inteiramente em cada instante, sem pensar no instante que virá depois, talvez para nunca estar em momento algum.
De agora em diante prometo respeitá-lo. Prometo procurar a maneira exata de descrever o que ele para mim representa, encontrar as palavras que o façam sentir útil entre tanta coisa inútil. Dizer sem receio que sem ele há dias que não ousaria sair de casa e como a sua presença é indispensável, protetora, saudável até. É bom espreitar o céu ameaçador e saber que posso contar com ele. Faz-me bem a sua companhia. Quantas vezes me tenho arrependido de ignorar os seus avisos e ficar depois horas à espera que o céu me deixe seguir o meu caminho. Se penso nas vezes que me acompanhou e o abandonei encharcado em qualquer canto, deixando-o tiritante, sujeito a constipar-se e sofrer das articulações, sinto-me culpado, impiedoso. Tenho remorsos por não saber agradecer como a sua presença me ajudou a seguir por ruas mal iluminadas, becos de duvidosas intenções, na noite de silêncio e enigmas em que qualquer sombra ou passo suspeito se torna ameaçador.
Prometo olhar para ele como nunca o vi. Dar-lhe um nome, quiçá carinhoso, que o faça esquecer a minha ingratidão. Sem ele a minha existência ficaria mais frágil, conheceria outros dias. Prometo. Cada momento contigo será apenas contigo: meu inestimável guarda-chuva.