Passei uma semana na capital daquele país africano fugindo dos tiroteios, mas não consegui escapar dos micróbios. Muito debilitado, eu estava deixando a cidade: já tinha acabado de passar pelo controle de passaportes no aeroporto quando um nativo me interpôs. A sua túnica tinha sido branca, mas ainda contrastava com a cor de sua pele. E com aquele inconfundível ar burocrático de quem encontra um idiota, exigiu:
Certificado de vacinação contra febre amarela?
Disse-lhe que a tinha mostrado ao entrar e que sem ela não poderia ter entrado no país.
Sem mais delongas, e com aquele ar inconfundível de cachorro-com -um-osso-na-boca, ele empunhou uma seringa de dimensões veterinárias, com uma agulha grossa e enferrujada, e se ofereceu para me vacinar.
Com minhas últimas forças esgrimi o salvo-conduto para essas ocasiões:
Quanto?
US$ 10, ele me disse e enquanto sorria guardou a seringa no bolso dele.
Talvez porque eu não regateei o preço, ele me ofereceu uma xepa. Carimbou o certificado internacional de vacinação como se tivesse me aplicado todas as vacinas exigidas e por serem exigidas.
Ele não era uma pessoa ruim, afinal.