Gente que Cuenta

Salvo-conduto: quanto?, por Alfredo Behrens

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La llegada de los viajeros
Ilustración para “Las desgracias de los inmortales”
Max Ernst
1922

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Passei uma semana na capital daquele país africano fugindo dos tiroteios, mas não consegui escapar dos micróbios. Muito debilitado, eu estava deixando a cidade: já tinha acabado de passar pelo controle de passaportes no aeroporto quando um nativo me interpôs. A sua túnica tinha sido branca, mas ainda contrastava com a cor de sua pele. E com aquele inconfundível ar burocrático de quem encontra um idiota, exigiu:

Certificado de vacinação contra febre amarela?

Disse-lhe que a tinha mostrado ao entrar e que sem ela não poderia ter entrado no país.

Sem mais delongas, e com aquele ar inconfundível de cachorro-com -um-osso-na-boca, ele empunhou uma seringa de dimensões veterinárias, com uma agulha grossa e enferrujada, e se ofereceu para me vacinar.

Com minhas últimas forças esgrimi o salvo-conduto para essas ocasiões:

Quanto?

US$ 10, ele me disse e enquanto sorria guardou a seringa no bolso dele.

Talvez porque eu não regateei o preço, ele me ofereceu uma xepa. Carimbou o certificado internacional de vacinação como se tivesse me aplicado todas as vacinas exigidas e por serem exigidas.

Ele não era uma pessoa ruim, afinal.

 

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Alfredo Behrens é doutor pela Universidade de Cambridge, leciona Liderança para as escolas de negócios da FIA em São Paulo e IME em Salamanca, e é Presidente do Conselho Estratégico da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, onde reside.
Alguns de seus livros podem ser adquiridos na Amazon.
ab@alfredobehrens.com

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