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Alfredo Behrens

Salvo-conduto: quanto?,  por Alfredo Behrens
45b, Alfredo Behrens

Salvo-conduto: quanto?, por Alfredo Behrens

leer en españolPassei uma semana na capital daquele país africano fugindo dos tiroteios, mas não consegui escapar dos micróbios. Muito debilitado, eu estava deixando a cidade: já tinha acabado de passar pelo controle de passaportes no aeroporto quando um nativo me interpôs. A sua túnica tinha sido branca, mas ainda contrastava com a cor de sua pele. E com aquele inconfundível ar burocrático de quem encontra um idiota, exigiu:Certificado de vacinação contra febre amarela?Disse-lhe que a tinha mostrado ao entrar e que sem ela não poderia ter entrado no país.Sem mais delongas, e com aquele ar inconfundível de cachorro-com -um-osso-na-boca, ele empunhou uma seringa de dimensões veterinárias, com uma agulha grossa e enferrujada, e se ofereceu para me vacinar.Com minhas últimas forças esgrimi o ...
Para que aprender a escrever?, por Alfredo Behrens
44a, Alfredo Behrens

Para que aprender a escrever?, por Alfredo Behrens

leer en españolNos países mais criativos em publicidade há mais prêmios Nobel.Toda sociedade tem mecanismos para alocar seus talentos. Umas sociedades privilegiam a criatividade, outras menos. As que depreciam a criatividade eventualmente deixam de inovar, porque ao remunerar mal seus criativos, desencorajam o investimento nas atividades que os empregariam.As atividades criativas podem ser individuais como a poesia, ou coletivas como a publicidade. As criativas individuais florescem como as flores maria-sem-vergonha, dão em qualquer lugar. Para elas bastam terra, sol e água. Dai que o Chile e Portugal, ambos produtores de bons vinhos, tenham prêmios Nobel em Literatura, embora tanto o Chile quanto Portugal apareçam próximos do final do ranking em criatividade publicitária para 2021.Tanto n...
Cuidado com o que você clica, por Alfredo Behrens
43a, Alfredo Behrens

Cuidado com o que você clica, por Alfredo Behrens

leer en español Quando era criança, me colocavam contra o batente de porta onde mediam meu progresso pela vida marcando a minha altura até o momento. A gente mudava pouco de morada, e nesse batente ficava o recorde do nosso crescimento ao longo do tempo. Agora podem-se medir as fases da vida de uma pessoa pela publicidade que recebe pela Internet. Esta me pegou já maduro. Inicialmente recebia publicidade sobre métodos para estender meu pênis. Sempre tive a impressão de que alguma sem-vergonha teria me vendido. Mas depois passaram a me enviar remédios para disfunção erétil. Agora nem isso, só recebo propagandas das mais variadas próteses, muitas sobre aparelhos auditivos, outras sobre implantes dentários. Já não me pergunto muito, mas tremo ao pensar que um dia poderei começar a receber...
Profanei um túmulo sem entrar na História, por Alfredo Behrens
42b, Alfredo Behrens

Profanei um túmulo sem entrar na História, por Alfredo Behrens

leer en españolNão sei se você conhece o ditado: Quando uma mulher cisma com uma ideia na cabeça, é mais fácil arrancar-lhe a cabeça do que a ideia.Como adoro a cabeça dela, sugeri que fôssemos ao cemitério, a última parada do ónibus, porque talvez lá encontrássemos a pedra chata e pesada, talvez mármore, sobre a qual fixar um brinquedo colorido que ela queria instalar aqui e agora.Mal tínhamos chegado ao cemitério, ela então alistou o coveiro Joaquim, que acabara de cavar um buraco onde alguém seria enterrado no dia seguinte. “Espero que ele esteja já morto!” eu disse, ao que Joaquim apontou para onde o morto estava sendo velado.Minha mulher, que não perde uma oportunidade para rezar, foi ezar um Pai Nosso ao morto, enquanto eu seguia o Joaquim que prometia uma pedra como a que queríamos....
Os russos e nós, por Alfredo Behrens
41a, Alfredo Behrens

Os russos e nós, por Alfredo Behrens

ler em españolAcho que ser russo é coisa muito séria. Não é apenas uma questão de passaporte. Essa turma é parte de uma civilização que até nos deu muita vida. Senão pensa na sua literatura, nem que seja na Ana Karenina, ou mesmo Guerra e Paz. Ou mesmo na poesia deles, Anna Akhmatova é a minha preferida! Mas se a literatura não é a tua praia, que tal a música dos russos? Na minha infância eu ouvi um vinis do Rimski Korsakov até que a agulha passou para o outro lado. Não gostas de Scherezade? Dos Quadros numa exibição do Mussorgsky, também não? Que tal pintores como Chagall, Malevitch ou Kandinsky? Também não gostas? Que tal a dança? Tive a sorte de estar no Bolshoi, uma maravilha! Também diferimos quanto a dança? Cinema então? Não falemos do Ensenstein que é difícil, mas que me dizes do Ni...
Desviamos o olhar – Alfredo Behrens
33b, Alfredo Behrens

Desviamos o olhar – Alfredo Behrens

leer en españolAo encontro de um amigo poeta, caminhava por um passeio no centro do Porto. A calçada era daquelas que de tão estreitas que mal cabe uma pessoa andando e prefere-se fazê-lo encostado na parede para evitar os carros. Não era como me deixar levar pelos meus pensamentos, mas nisso estava quando de repente encontrei o olhar de uma mulher que apenas mexia o prato de arroz com o garfo enquanto fingia ouvir mais uma vez o desabafo do companheiro da mesa.Como a calçada era muito estreita e a mesa deles ficava encostada na janela do restaurante, apenas alguns palmos separavam meus olhos dos dela. Mas aquele momento foi o suficiente para eu entender aquela mulher, e nós dois desviamos o olhar como se reconhecêssemos que essa intimidade nós era proibida.Ainda impressionado com a experi...
El arte libera – Alfredo Behrens
Alfredo Behrens

El arte libera – Alfredo Behrens

ler em portuguêsSon pobres de formación las personas cuyos temas de conversación a duras penas salen del sexo y el fútbol. Cambiar eso a escala nacional lleva mucho tiempo. Pero en tu propio entorno se puede hacer algo. Se puede hacer en el lugar de trabajo. ¿Qué tal reservar ahí un espacio para promover el enriquecimiento colectivo? Puede ser una pequeña biblioteca para prestar libros para colegas. A su alrededor se podrían organizar pequeñas reuniones para hablar de un libro.¿Qué necesitarías? Dependerá del número de personas en tu trabajo. Pero, puede comenzar con una sala de 5 a 10 metros cuadrados y de 50 a 100 libros en los estantes. ¿Sólo libros? ¿Necesitas un lugar físico hoy, con tanto gratis en internet? Sí, hay muchas cosas buenas gratis en Internet. Pero verás que necesitarías ...
O inconsciente coletivo de uns e outros – Alfredo Behrens
29a, Alfredo Behrens

O inconsciente coletivo de uns e outros – Alfredo Behrens

ler em espanholEm Berlim no início dos anos 30, Werner e Jacob bricancam na rua depois da escola. Frequentemente, um ia à casa do outro para comer um lanche antes de dormir cada um na sua casa, embora às vezes dormissem na casa do outro. Em ambas as casas, se falava do terror que fora o período em que os preços das coisas aumentavam de hora em hora, enquanto os salários aumentavam apenas no final do mês, se tanto.Era uma amizade como qualquer outra, ou parecia sê-lo. Mas, com o tempo, Jacob se sentiu menos bem-vindo na casa de Werner, onde era cada vez menos convidado para o lanche e nunca mais para dormir. Pouco depois veio Kristallnacht, e a família de Jacob escapou como pôde. Eles foram para a Palestina para se ajeitarem na vida. Não foi fácil e menos ainda para Jacob, que não tinha ami...
Alfredo Behrens

Papas fritas, Bach e Noguchi – Alfredo Behrens

ler em portuguêsHay a quienes les gusta el pollo con papas fritas. También hay a quienes les gusta escuchar composiciones de Beethoven, e inclusive de Mozart y de Bach. Lo curioso es que media un siglo entre Bach y Beethoven. Sin embargo, creo que somos más selectivos en cuanto a nuestras preferencias por los pintores.Me explico, Beethoven nació en 1770, el pintor inglés Turner en 1775. Podemos imaginar a quien les guste los dos, escuchar a Beethoven y mirar las pinturas de Turner, precursor del impresionismo.Pero J.S. Bach nació en 1685 y tendríamos dificultad en encontrar quien aprecie escuchar a Back y admire a sus contemporáneos en pintura, como Jean Baptiste Oudry.También podemos imaginar que alguien disfrute de escuchar a Shostakovich, y que le guste menos los impresionistas, prefiri...
O cocó do cavalo do bandido – Alfredo Behrens
23c, Alfredo Behrens

O cocó do cavalo do bandido – Alfredo Behrens

  leer en español A fase de expansão de um ciclo de negócios é quando o emprego é fácil e os sorrisos também. Infelizmente os ciclos de expansão costumam ser seguidos da fase de contracção, quando as pessoas são desempregadas e entristecem. Lá pelos anos 80 do século 19 um sujeito declarou que os ciclos económicos eram regulares ao ponto de serem causados pelas manchas solares, também regulares. Todos riram dele, mesmo apesar de ele ter sido um dos economistas ingleses mais famosos do seu tempo. William Stanley Jevons era seu nome. Foi tal a sorna com a qual a proposta do William foi recebida, que seu filho, já no início do século 20, tomou para si recuperar o prestígio do pai. Não conseguiu. Não é difícil entender por que. Jevons pai falava numa época na qual a agricul...
Dos en una – Alfredo Behrens
Alfredo Behrens

Dos en una – Alfredo Behrens

ler em português Eran dos hermanas gemelas muy queridas. Lindas, inteligentes ambas. A pesar de que tenían valores muy parecidos, una se inclinaba para las ciencias y la otra para las artes. María era la futura científica, aún no se sabía si seria para las matemáticas o la física, o si optaría por las ciencias de la vida. Joana, en cambio, mostraba una inclinación más definida por las artes escénicas. Llegaba a ser histriónica, y era muy atractiva. Miguel las conocía desde joven, pero como partió al exterior por sus estudios, solo retomó contacto con ellas a eso de sus 25 años y se enamoró perdidamente de Joana, la histriónica. Se casaron y fueron felices hasta que a ella le sobrevino un tumor cerebral y apenas un trasplante de cerebro la salvaría. Por esos días María, la hermana cie...
A garota da biblioteca, por Alfredo Behrens
76c, Alfredo Behrens

A garota da biblioteca, por Alfredo Behrens

leer en español    Na praia de Ipanema, passeava uma universitária de quem eu gostava. Eu disse a ela o que pensei ser um elogio e ela retribuiu com uma rejeição irreconciliável: me disse para não ser tão uruguaio! Mas eu era um novato no Brasil, uruguaio era a única coisa que sabia ser, e achava que o fazia direitinho. Foi difícil, ainda mais porque eu estava muito sozinho. O tempo passou e eu avistei na biblioteca da faculdade outra garota de quem eu gostava, e que achava que me aceitaria melhor. Ainda inseguro quanto à minha estratégia de aproximação, não fosse que ia achar a minha mão boba, no bar da faculdade pedi-lhe se podia acariciá-la. Acontece que ele disse sim e fizemos mais do que carícias ao longo de várias décadas, com amor e ódio, aos dois lados do Oceano Atlântico, ao...